A DELICADEZA DE UM CÉU SEM ESTRELAS

julho 17, 2018

"Nada é eterno. Nem as estrelas."
- Céu sem Estrelas, cap. 56, p. 345


A primeira coisa que eu senti ao começar a ler "Céu sem Estrelas", de Iris Figueiredo, foi medo. Não sei explicar muito bem a origem desse medo até agora - talvez apenas o medo que a gente sempre tem quando se é medrosa até demais. A última coisa que eu senti quando fechei o livro após a leitura foi um grande aperto no coração. Todas as outras coisas foram sentidas durante a leitura deste livro.

O livro conta a história da Cecília e do Bernardo. De um lado, Cecília acabou de fazer dezoito anos e de perder o emprego, ela mora com a mãe e o padrasto em uma situação não muito ideal, e está no início da faculdade de Desenho Industrial em uma universidade federal do Rio de Janeiro. Do outro, Bernardo faz Engenharia Mecânica na mesma universidade federal, mora com a família que parece de comercial de margarina e tem uma vida social que vai muito bem. Bernardo é irmão de Iasmin, melhor amiga de Cecília. Cecília tem uma quedinha por Bernardo desde os nove anos.

Os capítulos vão alternando o ponto de visto dos dois e, logo de cara, a gente admira a decisão de Iris de escrever esses dois personagens em primeira pessoa. A Cecília é uma menina ansiosa e com inseguranças sobre várias coisas, e em seus capítulos podemos ter as mesmas incertezas que ela tem sobre ela mesma e sentir na pele tudo o que ela passa. Enquanto na visão de Bernardo podemos ter outro olhar sobre quem é Cecília, a menina que gosta de ler e consegue entrar nos cômodos de fininho e observa tudo atentamente.

Através dos olhos de Bernardo, além de vermos a perspectiva masculina em contraste com algumas inseguranças de Cecília, podemos ver as interações entre esses dois personagens dentro de seus respectivos universos e entender os cenários em que eles vivem e se inserem e como esses dois mundos colidem e se unem. Com o ponto de vista de Bernardo podemos entender algumas irracionalidades de Cecília, que, em seus pontos de vista, temos a certeza de que é certo. O contrastes dos capítulos entre eles é de extrema importância para entendermos o que se está passando com ela e o que acontece tanto com as outras pessoas ao redor dela, quanto como a nossa própria mente pode fazer conosco de um ponto externo.

No início do livro, Cecília sai da casa que divide com a mãe e o padrasto e vai morar na casa da melhor amiga, Iasmin. A passagem da Cecília tentando entender o que era "casa" e onde ela se sente à vontade e confortável e qual seria a nova definição de "casa" é outro ponto forte do livro. O momento em que nós entendemos que nem sempre o que chamamos de casa é algo bom para nós, que é o melhor para a gente.

O livro aborda questões sobre saúde mental, transtornos e relacionamentos de diversos tipos. A Iris possui uma delicadeza de falar sobre esses assuntos de uma forma que a gente não vê por aí, em que nada é escondido do leitor mas que também mostra que é possível discutir sobre isso sem fazer exageros hollywoodiano ou sensacionalizar esses tópicos. De um modo geral, acho que a lição do livro é como nada é eterno e que talvez as coisas vão melhorar, principalmente em uma fase das nossas vidas em que nada está dando certo e não sabemos lidar muito bem com as mudanças que acontecem tão rapidamente. É um pouco sobre se perder, mas também é sobre se achar depois de um tempo nublado.

"Céu sem Estrelas" é o tipo de livro que a gente não sente o baque durante a leitura, é um peso que cai em nós algum momento depois e que precisamos absorver e entender tudo o que está sendo ensinado e mostrado para nós. De uma forma delicada e incrível.

Título: Céu sem Estrelas
Autora: Iris Figueiredo
Editora: Seguinte
Ano: 2018
Nota: 5/5

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